sábado, 27 de julho de 2013

Mulher Rendeira

Vozinha ficava na varanda fazendo renda de bilros
E ninguém podia perto chegar! logo falava: aqui não é para criança, vai brincar!!
De longe eu ficava espiando, tinha medo até de respirar.
Vozinha passava a tarde toda ali
Com mãos fortes pra lida aguentar
Fazia bordado, renda, renda
Eu me cansava e ia brincar
Vozinha ficava ali, fazendo renda, renda, renda

Olê Mulher rendeira!!!!! 

Nanda. 
Para minha avó Maria 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ressaca

Ontem foi seu aniversário, e eu fui sambar. Deixei me levar na corda bamba do passo, ser um compasso para o meu corpo e meus desejos.

 Agora, ao abrir os olhos, e ainda sentir o amargo gosto da cerveja na saliva, e com os pés pequenos doídos de batucar, lembro que por um dia eu te esqueci. Reviro-me neste lençol  branco, procurando suas pernas quentes nas minhas e vejo que as deixei ir  por um caminho sem volta.

A chuva fina, que entra pela janela, acorda sentimentos cheios de tormentas que minha cabeça insiste em querer ter. Ontem, no seu aniversário fez sol, não tive tormentas no meu calcanhar, nem pensei por onde você deveria estar, se sentado sob o sol que reluzia sua luz, ou a compor o infinito sobre as ondas do mar.

Eu sambei!  E a madrugada cantava canções de amor, sambei ao meu esquecimento, à inquietude do meu coração, que como dizia o velho samba:
 “ vai sofrer de amor até morrer”. E no meu chinelo arrastando no chão, repousava a minha saudade.



Ontem foi seu aniversário. Não te catei nos fragmentos do passado, não escrevi poemas, nem explodi o mundo com minhas dores. Ontem, no seu aniversário, ao invés de chorar, eu fui sambar.

Nanda

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Hoje

Nos dias cinzas
Espero a chuva
Com seus pingos
Para me acalentar
Nos dias cinzas
Temo em sentir mais saudades
Que o normal... 
Hoje a saudade bateu mais em meu peito
Que os pingos da chuva no chão.

Nanda 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Foi uma taça, outra, mais uma 
Taça de sonhos!despedidas...
Amigos, irmãos que no dispersar da vida
Deixa a mão estendida no futuro
E o passado no faz ver o futuro
O Adeus, encontrar sonhos, a verdade 
e o medo de parar...de sonhar
De ver o que restou, do resto que sobrou
Do rio que não desceu, da chuva que secou
Amores perdidos, proibidos e até colas simples de colegas
São fragmentos de sabonetes que limpa nossa alma livre
E entre um e outro encontrar a dor
A descoberta de viver...A solidão ao se vê no espelho
A vontade de liberdade...
De limpar com as águas da vida os sabonetes do saber
E de se sujar com águas futuras o rio do passado que não se viveu
A alegria que se perdeu, a dor que a experiência não deixou
O rio em que tomo banho não será o mesmo
A corrente me faz peixe
As palavras me faz pleno
E homens que somos
As mulheres sempre
Nascente são abissais
Mistério da vida
Hoje é início e partida, é espera e volta
Alegria e saudade, presente e futuro distante

Nanda, Nani e Kaofo
em um passado distante.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Sem fim



Não tinha aprendido, até essa tarde, que é preciso chorar pra ser forte,

Atravessou todas as horas de suas dores transformando-se em rocha,

Apenas a chuva podia molhar as suas amarguras,

Pobre moça! Viu o mundo passando, os dias partindo
As estações correndo, e ela ali, parada, ressoando o que já não estava mais a sua volta.

Quis ir, tantas vezes, até as distâncias, aonde só o vento vai, e não pode! 
Quis ir pro seu balançar, para o sol sem fim, e não teve coragem!
Mas, naquela tarde, a dor explodiu em sua mão, e sentada a sombra da goiabeira, pois- se a chorar.  
O coração, que sempre dissimulou ser duro, se embebeceu de lágrimas e foi possível ver todas as cores que ainda guardava dos dias de alegria  e que  rompem no sem fim, já não estavam no seu caminho 
E chorou...
Atirou-se ao precipício e jorraram lágrimas, 

Para lavar o rosto, os olhos e os cílios que tantas vezes foram acariciados, onde respirava os sonhos...

E soube também que de sonhos não se vive.

Mais uma vez chorou, solitária e silenciosamente, vendo lágrimas talhando o chão. 
Rodeada de lamúrias e silêncio, o lamento baixinho ecoava para o mundo, fazia inundar a sua alma e ia encharcando todo o seu corpo, desfazendo suas vestes, diluindo a rocha que mantinha ali.

Olhou-se, se viu despida, transparente como as lágrimas escorrendo ao chão, virando lama e virando seiva, e descobriu, que ela mesma, era o único caminho a seguir... 



Nanda. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Para Malu

Como boa estudante da técnica moderna e da poiesis, aprendi bem a diferença entre fazer vir a ser e deixar que algo venha a ser por si mesmo aquilo que já é... bom, sentir isso dentro de si mesmo, como physis, como terra onde algo pode surgir e vir a ser é um sentimento que nenhuma racionalidade jamais será capaz de dizer, de formular. 

A poiesis, como produção, faz vir a ser de tudo um pouco, desde um bom vinho a um filho que surge e produz-se dentro e a partir do outro.
Então Malu é pura poiesis! Veio e está aqui por si a partir de nós.

O que dizer de um puro sentir?

Amanhã, ela que já é, virá.

Não vai sair sozinha, como queríamos... Mas não seria vida, ainda assim? Não seria poético?

A casinha do João de Barro é linda, é perfeita, sem ela os filhotes não podem vir a ser... mas ela surge livremente? Não. Ela faz parte de uma conjuntura que possibilita a vida. Que possibilita o vir a ser dos filhotes.

Malu é poiesis. Irrompeu dentro de mim num movimento de surgir todo próprio, todo ela. Ela vem para os meus braços, porque dentro de mim ela já é. Vem pela técnica que é também essa poiesis que faz vir a ser o que não vem por si. Não que ela não possa vir por si, na verdade, ela já está aqui por si. É que esse vir a ser é também um movimento político, do qual não quero mais me ocupar aqui.

Ela é.

E essa é uma imposição tão forte da poiesis, da poesia, que quando nos toca, não nos dá outra possibilidade senão a de mudar o nosso modo de ser. 
Quando a poesia Malu me tocar daqui de fora, nos meus braços, 
no meu seio, no meu corpo, tal como uma obra de arte, outra possibilidade, outro modo de ser irá se impor para mim: mãe!

Grito, Malu!
Venha com seu choro que é pura natureza, pura poesia, puro você!
E me lance então num outro modo. Não importa de que modo venha, você já é! E por isso eu tenho a possibilidade de ser outra. 
Espontaneamente ou com hora marcada, pra mim, agora, não faz a menor diferença. Não é isso tudo vida? É vida! É vida já. Seja nas minhas costelas, seja sugando meu seio.

Venha! E então vamos lá!



                                                                 Nani, 05 de fevereiro de 2013 - véspera da chegada de Malu.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O tal sonho


Partiu
Lançou-se
Foi dar pulos ao fundo do vento
Jogou-se nas pedras do tempo
E agora anda no brincar do balanço que ainda
Carrega em seus dias, nos seus vaivéns.
Tem o cheiro do pôr do sol frio em suas mãos
E tem buscado caminhar levemente pelo cinza da cidade
O tal sonho da menina rio, da menina da beira do rio, era somente existir além dos quadrados.
A menina miúda, de cachos soltos,  tinha o tal sonho nas palavras que nascia enquanto via o mundo da sua janela , e ele era enorme!!!!
Da janela caía as mais belas chuvas, e no seu canto preferido nas tardes chuvosas, ter os pés e mãos na chuva, era ser, mesmo que passageira o tal sonho.
Mas a roda girou, quebrou, e na janela já não cabia o mundo.
O sopro do desejo varreu tudo, sem palpitar, sem parar para respirar.
 E nem o colo do amor conseguiu, por entre suas pernas, guardar olhos já tão distantes.
Dai o tal sonho, da menina que via o mundo pela janela,
Resolveu ser ele mesmo o mundo e sem pestanejar
Lançou-se... E anda solto por ai...

Nanda.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sobre Roupas e Arco-íris



Como de costume, sentávamos nas tardes quentes na nossa varanda, onde o vento seco corria e entre os afazeres dela conversávamos sobre o dia-a-dia, sobre a vida que cruzava nas calçadas alheias.

Nos olhos, reluzia o brilho das grandes mangueiras já amareladas do sol, que vez e outra lançavam ao chão uma manga madura e o seu barulho interrompia a conversa.

Ela, sensível e delicada, neste dia meteu-se a lavar as roupas da casa, com tamanha sutileza que eu reparava mais nos gestos das mãos, na forma de tocar as roupas, do que na conversa, e aqueles gestos tão doces me remetia aos tempos de criança quando ela penteava meus cabelos.

O barulho da água tocava aos ouvidos como uma deliciosa música e só era retirado quando lentamente ressoava as suas palavras. Neste ir e vir de palavras e águas aos poucos nosso quintal era invadido por roupas.

A tarde vai caindo, roupas lavadas, quintal molhado, varal de azul, amarelo, verde e vermelho, outro cenário se formava em meio às plantas.

Ao acabar, aquela mulher de cor tão alva e que leva no seu caminhado charme, delicadeza e tranquilidade, tem no seu olhar um brilho de cansaço e satisfação que a reluz mais ainda, era como se estivesse pronta para uma festa. Toda molhada, por entre as roupas que gotejavam, pacientemente  e inesperadamente minha mãe solta uma pergunta:

- Sabe por que gosto de lavar roupas?
Respondo:
- Não! E não gosto de lavar roupas cansa muito
E na doçura da sua voz ouço:
- Por que o quintal fica todo colorido, vira um arco-íris!

Não respondo... me deixo ser tomada pelo arco-íris que minha mãe pinta cotidianamente com nossas roupas. 

Nanda
Para minha mãe