terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Era uma manhã fria, o corpo cansado da viagem e fazendo um roteiro desconhecido... Só queria chegar logo no meu destino. Caminho apressadamente pra comprar o bilhete do metrô e, ao me aproximar do balcão, o primeiro sinal que o atendente expressa depois do meu bom dia é um olhar vazio, desinteressado. Eu, com meu jeito eternamente interiorano penso: Como as pessoas são tão frias! Cidade grande é isso, quando vou acostumar! 
Moço forte, cabelo trançado, bonito o moço! Nada me responde, abaixa a cabeça e se concentra em um pedaço de papel e escreve alguma coisa. Imagino que seja do trabalho. Novamente falo com o moço pra perguntar o preço do bilhete, outra vez uma olhada seca, como quem diz: você tá me atrapalhando! Aponta para o adesivo que mostra o valor e volta para o papel e pra caneta.
 Abro a bolsa, pego a grana e coloco no balcão. O moço, escrevendo estava, escrevendo continua. Quanta falta de educação! É só o que passa na minha cabeça. Sem muita paciência falo um MOÇOOOO!! Ele, irritado pega a grana. Enquanto conta o troco, eu que não sou muito curiosa, resolvo observar o que era tão importante naquele bendito papel pra aquele rapaz ser tão mal educado. E quando meus olhos encontram aquelas letras, pequenas e tortas, se enchem de brilho e alegria. A minha curiosidade é interrompida pelas mãos do moço que me passa o troco e o bilhete. Nossos olhares se cruzam e eu suplico um pedido de desculpas com um sorriso tímido, ele abaixa a cabeça e continua a escrita. Saio sem graça e no correr do dia, na lembrança daquele olhar, imploro:
 - Desculpa moço! Onde já se viu atrapalhar a escrita de uma carta de amor!


Rio de Janeiro, Julho de 2016

Nanda

sábado, 9 de julho de 2016

Não há sequer uma palavra... Sequer uma forma de expurgar o que aqui dentro me revira e faz as noites calmas virarem tempestades.
Nunca um caminho foi tão largo, tão claro... Que de tanto sentir, me calo.
Por que pesa sobre minhas mãos esse sentir? Que somente ouso tocar  com os dedos do  silêncio. Por que elas não podem  fazer  jorrar tudo que aqui dentro escorre? Ser  como um rio caudaloso, lento, forte, que se acomoda nas  curvas dos barrancos e desce ao sem fim.  
Por que deita sobre o meu colo um gozar tão leve? que não consigo deleitar,  reverberar ensurdecedoramente , como assim fazem as cigarras nos seus cantos  nas auroras calorentas.
Caminho em um descompasso,  carrego labirintos, piso em medos... e calo.  Não jorro, não explodo. Tenho sido tocada pelo sabor acalentador do inesperado, tenho seus olhos como o cantar da dúvida, como leves canções que carregam os suspiros que gritam à minha alma.
E cravo silêncios enormes em mim... Não sei o que me falta ou o que me preenche tanto que nada  ressoa. Desconfio do seu sono profundo, ou da saudade...

Nanda

sexta-feira, 4 de março de 2016