Como de costume, sentávamos nas
tardes quentes na nossa varanda, onde o vento seco corria e entre os afazeres
dela conversávamos sobre o dia-a-dia, sobre a vida que cruzava nas calçadas
alheias.
Nos olhos, reluzia o brilho das grandes
mangueiras já amareladas do sol, que vez e outra lançavam ao chão uma manga
madura e o seu barulho interrompia a conversa.
Ela, sensível e delicada, neste
dia meteu-se a lavar as roupas da casa, com tamanha sutileza que eu reparava
mais nos gestos das mãos, na forma de tocar as roupas, do que na conversa, e aqueles
gestos tão doces me remetia aos tempos de criança quando ela penteava meus
cabelos.
O barulho da água tocava aos
ouvidos como uma deliciosa música e só era retirado quando lentamente ressoava
as suas palavras. Neste ir e vir de palavras e águas aos poucos nosso quintal era
invadido por roupas.
A tarde vai caindo, roupas
lavadas, quintal molhado, varal de azul, amarelo, verde e vermelho, outro
cenário se formava em meio às plantas.
Ao acabar, aquela mulher de cor
tão alva e que leva no seu caminhado charme, delicadeza e tranquilidade, tem no
seu olhar um brilho de cansaço e satisfação que a reluz mais ainda, era como se
estivesse pronta para uma festa. Toda molhada, por entre as roupas que gotejavam,
pacientemente e inesperadamente minha
mãe solta uma pergunta:
- Sabe por que gosto de lavar
roupas?
Respondo:
- Não! E não gosto de lavar roupas
cansa muito
E na doçura da sua voz ouço:
- Por que o quintal fica todo
colorido, vira um arco-íris!
Não respondo... me deixo ser
tomada pelo arco-íris que minha mãe pinta cotidianamente com nossas roupas.
Nanda
Para minha mãe
Nanda
Para minha mãe
Nenhum comentário:
Postar um comentário