quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sobre Roupas e Arco-íris



Como de costume, sentávamos nas tardes quentes na nossa varanda, onde o vento seco corria e entre os afazeres dela conversávamos sobre o dia-a-dia, sobre a vida que cruzava nas calçadas alheias.

Nos olhos, reluzia o brilho das grandes mangueiras já amareladas do sol, que vez e outra lançavam ao chão uma manga madura e o seu barulho interrompia a conversa.

Ela, sensível e delicada, neste dia meteu-se a lavar as roupas da casa, com tamanha sutileza que eu reparava mais nos gestos das mãos, na forma de tocar as roupas, do que na conversa, e aqueles gestos tão doces me remetia aos tempos de criança quando ela penteava meus cabelos.

O barulho da água tocava aos ouvidos como uma deliciosa música e só era retirado quando lentamente ressoava as suas palavras. Neste ir e vir de palavras e águas aos poucos nosso quintal era invadido por roupas.

A tarde vai caindo, roupas lavadas, quintal molhado, varal de azul, amarelo, verde e vermelho, outro cenário se formava em meio às plantas.

Ao acabar, aquela mulher de cor tão alva e que leva no seu caminhado charme, delicadeza e tranquilidade, tem no seu olhar um brilho de cansaço e satisfação que a reluz mais ainda, era como se estivesse pronta para uma festa. Toda molhada, por entre as roupas que gotejavam, pacientemente  e inesperadamente minha mãe solta uma pergunta:

- Sabe por que gosto de lavar roupas?
Respondo:
- Não! E não gosto de lavar roupas cansa muito
E na doçura da sua voz ouço:
- Por que o quintal fica todo colorido, vira um arco-íris!

Não respondo... me deixo ser tomada pelo arco-íris que minha mãe pinta cotidianamente com nossas roupas. 

Nanda
Para minha mãe

Nenhum comentário:

Postar um comentário