terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Para Malu

Como boa estudante da técnica moderna e da poiesis, aprendi bem a diferença entre fazer vir a ser e deixar que algo venha a ser por si mesmo aquilo que já é... bom, sentir isso dentro de si mesmo, como physis, como terra onde algo pode surgir e vir a ser é um sentimento que nenhuma racionalidade jamais será capaz de dizer, de formular. 

A poiesis, como produção, faz vir a ser de tudo um pouco, desde um bom vinho a um filho que surge e produz-se dentro e a partir do outro.
Então Malu é pura poiesis! Veio e está aqui por si a partir de nós.

O que dizer de um puro sentir?

Amanhã, ela que já é, virá.

Não vai sair sozinha, como queríamos... Mas não seria vida, ainda assim? Não seria poético?

A casinha do João de Barro é linda, é perfeita, sem ela os filhotes não podem vir a ser... mas ela surge livremente? Não. Ela faz parte de uma conjuntura que possibilita a vida. Que possibilita o vir a ser dos filhotes.

Malu é poiesis. Irrompeu dentro de mim num movimento de surgir todo próprio, todo ela. Ela vem para os meus braços, porque dentro de mim ela já é. Vem pela técnica que é também essa poiesis que faz vir a ser o que não vem por si. Não que ela não possa vir por si, na verdade, ela já está aqui por si. É que esse vir a ser é também um movimento político, do qual não quero mais me ocupar aqui.

Ela é.

E essa é uma imposição tão forte da poiesis, da poesia, que quando nos toca, não nos dá outra possibilidade senão a de mudar o nosso modo de ser. 
Quando a poesia Malu me tocar daqui de fora, nos meus braços, 
no meu seio, no meu corpo, tal como uma obra de arte, outra possibilidade, outro modo de ser irá se impor para mim: mãe!

Grito, Malu!
Venha com seu choro que é pura natureza, pura poesia, puro você!
E me lance então num outro modo. Não importa de que modo venha, você já é! E por isso eu tenho a possibilidade de ser outra. 
Espontaneamente ou com hora marcada, pra mim, agora, não faz a menor diferença. Não é isso tudo vida? É vida! É vida já. Seja nas minhas costelas, seja sugando meu seio.

Venha! E então vamos lá!



                                                                 Nani, 05 de fevereiro de 2013 - véspera da chegada de Malu.