sexta-feira, 5 de junho de 2015

Naquela esquina, naquela casa, tinha um pouco do céu nas suas paredes. Um azul límpido cotidianamente passeava em nossos olhos.
O brilho do sol trazia a quentura  em todos os seus quadrados, e,  de nascer em nascer, o calor transbordava e fazia o interior das gentes dali ser  risonhas e fogosas
Nas suas janelas passeavam todas as formas de vida, e  se via e ouvia tantas histórias, tantos causos,  tantos barulhos... Era vida!
Naquela esquina, com seus dois pés de são joão, as marias fedorentas vez ou outra fazia dançar aqueles corpos, era um verdadeiro baile o seu toque, finas patas que trazia fétido odor, bons bailados e muitos sorrisos.
Em verdade, quase tudo era festa, o barulho do bater da porta, o ranger da cadeira de rodas, o papagaio eufórico que girava e gritava nos dias de chuva,  o ruído das panelas no fogão... Naquela esquina, ouvi dizer, crianças não choravam e as nuvens adoravam foliar  com o ar seco  que pairava sobre as telhas.
Se chovia, as plantas se esparramavam de alegria por todo o quintal, se esfriava, a noite do cerrado soprava um vento bem lento que entrava nas frestas de suas paredes,  e se era noite de lua cheia, e ela brilhava entre as mangueiras alheias, a varanda tinha mais cores que a televisão,  e seu povo bem que sorria sob o  luar, bem que cantava sobre aquele lar...
A vida ali se mantinha na infância... Brincava solta na rua.
Naquela esquina, naquela casa, ainda há paredes azuis, mas cansadas, mutiladas, desbotadas... é de um silêncio que nem flor brota, é de uma lamúria que nem calor faz...nada lá se faz, só lágrimas.
Ouvi dizer, que hoje, as crianças daquela esquina, daquela casa,  ainda não conseguem sorrir, mas  tentam rebocar as suas paredes rachadas...


Nanda. 
Minha casa, desde que meu pai se foi...