Naquela esquina, naquela casa,
tinha um pouco do céu nas suas paredes. Um azul límpido cotidianamente passeava
em nossos olhos.
O brilho do sol trazia a quentura
em todos os seus quadrados, e, de nascer em nascer, o calor transbordava e
fazia o interior das gentes dali ser risonhas e fogosas
Nas suas janelas passeavam todas
as formas de vida, e se via e ouvia
tantas histórias, tantos causos, tantos
barulhos... Era vida!
Naquela esquina, com seus dois
pés de são joão, as marias fedorentas vez ou outra fazia dançar aqueles corpos,
era um verdadeiro baile o seu toque, finas patas que trazia fétido odor, bons
bailados e muitos sorrisos.
Em verdade, quase tudo era festa,
o barulho do bater da porta, o ranger da cadeira de rodas, o papagaio eufórico que
girava e gritava nos dias de chuva, o ruído
das panelas no fogão... Naquela esquina, ouvi dizer, crianças não choravam e as
nuvens adoravam foliar com o ar seco que pairava sobre as telhas.
Se chovia, as plantas se esparramavam
de alegria por todo o quintal, se esfriava, a noite do cerrado soprava um vento
bem lento que entrava nas frestas de suas paredes, e se era noite de lua cheia, e ela brilhava
entre as mangueiras alheias, a varanda tinha mais cores que a televisão, e seu povo bem que sorria sob o luar, bem que cantava sobre aquele lar...
A vida ali se mantinha na
infância... Brincava solta na rua.
Naquela esquina, naquela casa, ainda
há paredes azuis, mas cansadas, mutiladas, desbotadas... é de um silêncio que
nem flor brota, é de uma lamúria que nem calor faz...nada lá se faz, só
lágrimas.
Ouvi dizer, que hoje, as crianças
daquela esquina, daquela casa, ainda não
conseguem sorrir, mas tentam rebocar as suas
paredes rachadas...