segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Há um ano me perguntava: Como seguir com a consciência de que estamos aqui e você já não nos sentir? E depois de um ano, o desespero de não saber como a vida continuaria, de que os dias faria seus percursos, como o rio que continua a desaguar em outro, e em outro até virar mar, já não sufoca tanto. A dor, que não se evapora, começa a se transformar em lembranças. O choro, que nunca caiu na frente da minha mãe, continua sendo afagado pelo silêncio dos desconhecidos nas ruas, na verdade, são para as ruas as minhas confidências diárias de saudades.
Depois de um ano se aprende a lidar com o vazio, sem o barulho da cadeira de rodas, sem as conversas, sem os nossos silêncios na varanda enquanto sentíamos a brisa do cerrado, nosso refugio nos dias mais quentes! Aprende que é nesse vazio que se encontra tudo, onde é refeito, na memória, a existência. É este vazio que me faz seguir, que reflete a existência, sobretudo a minha. E existir é acumular o que o outro é, foi... Depois de um ano, algumas coisas não voltaram para o lugar, nem vão, pois precisam se refazer em outros espaços, de outros modos, pra poder continuar a ser. Hoje, o sentir só me é possível na memória... É onde tenho encontrado a leveza pra compreender que o rio precisa seguir. Mas, alguns sentimentos ainda perturbam... Como entender que: “Quando um pai morre, a gente perde a mãe também”. 

Nanda
o sol explodia em meu rosto
e o barulho dos carros gritavam nos meus ouvidos como o meu suor deslizava pelo meu corpo
ouvia apenas buzinas, buzinas, buzinas
o mundo parecia não mais falar
queria que tudo mais fosse...
para qualquer lugar
queria só estar em casa ligar a TV e não ver nada...
o suor escorria no meu corpo...

Nanda.