Ontem foi seu aniversário, e eu fui sambar. Deixei me levar
na corda bamba do passo, ser um compasso para o meu corpo e meus desejos.
Agora, ao abrir os
olhos, e ainda sentir o amargo gosto da cerveja na saliva, e com os pés
pequenos doídos de batucar, lembro que por um dia eu te esqueci. Reviro-me
neste lençol branco, procurando suas
pernas quentes nas minhas e vejo que as deixei ir por um caminho sem volta.
A chuva fina, que entra pela janela, acorda sentimentos
cheios de tormentas que minha cabeça insiste em querer ter. Ontem, no seu
aniversário fez sol, não tive tormentas no meu calcanhar, nem pensei por onde
você deveria estar, se sentado sob o sol que reluzia sua luz, ou a compor o
infinito sobre as ondas do mar.
Eu sambei! E a
madrugada cantava canções de amor, sambei ao meu esquecimento, à inquietude do
meu coração, que como dizia o velho samba:
“ vai sofrer de amor até morrer”. E
no meu chinelo arrastando no chão, repousava a minha saudade.
Ontem foi seu aniversário. Não te catei nos fragmentos do
passado, não escrevi poemas, nem explodi o mundo com minhas dores. Ontem, no
seu aniversário, ao invés de chorar, eu fui sambar.
Nanda